quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Figuras de Linguagem IV



Figuras de Som ou Harmonia


Chama-se figura de som ou harmonia os efeitos produzidos na linguagem quando há repetições de sons ao longo de uma oração ou texto ou ainda quando se procura imitar os barulhos e sons produzidos pelas coisas ou seres.

4.1 Aliteração: É a figura de som provocada pela incidência retirada de algumas consoantes ou fonemas consonantais.

Ex:
A onda

a onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda a onda


Manuel Bandeira BANDEIRA, M. A Estrela da Tarde, 1960.

4.2 Assonância: É a repetição de vogais e de sílabas semelhantes, mas não idênticas.

Ex:
Houve aquele tempo...
(e agora a chova chora,
ouve aquele tempo).

4.3 Paranomásia: É a figura de som que consiste no emprego de palavras parônimas ou seja palavras semelhantes no som porém com significados diversos.

Ex:
Sou Ana, da cana
Da cama, fulana bacana
Sou Ana de Amsterdam

4.4 Onomatopéia: É a palavra ou conjunto de palavras que representa um ruído ou um som.

Ex:
O relógio tique-taqueou a noite

toda tic, tac, tic, tac

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Figuras de pensamento

Figuras de Linguagem Parte III

Figuras de Pensamento


Figuras de pensamento consiste numa alteração, num desvio ao nível da interação do falante.
Essa alteração não se dá na expressão, mas anteriormente no próprio processo de elaboração mental da expressão.
Dessa forma, as figuras de pensamento não podem ser detectadas a partir de um termo que substitui outro ou de um desvio em relação as normas gramaticais.

3.1 Antítese: É a figura de pensamento que consiste em opor a uma ideia a outra de sentido contrário, é a figura pela qual se evidencia a oposição entre duas ou mais ideias.

Ex:
 "Residem juntamente no teu peito/um demônio que ruge e um deus que chora” (Olavo Bilac)

3.2: Ironia: utiliza uma palavra,  expressão ou frase em sentido diferente do literal, observando-se, com isso, conotação depreciativa ou satírica.


Ex:
- Ouça as buzinas,  os xingos,  os palavrões! Não é encantador o trânsito de São Paulo.

3.4 Paráfrase:  É a figura de pensamento que consiste na criação de um torneio  de palavras para expressar alguma ideia.

Ex:
As pessoas que tudo querem (os gananciosos) nada conseguem.

3.5 Eufemismo: (do grego eufhemismos "dizer bem, dizer agradavelmente")

É uma figura de pensamento que consiste em aliviar a expressão desagradável, grosseira. O eufemismo procura atenuar o sentido de determinados termos que geralmente são considerados demasiado fortes pelos falantes da língua. No eufemismo existe uma intenção por parte do falante de não chocar o seu interlocutor.

Ex:

Alma minha gentil que te partiste
Tão cedo desta vida [...]
                 Camões.

3.6 Hipérbole: É a figura de pensamento que ocorre quando há a exageração de uma ideia.

Ex: 
  • Fazia quase um século que a gente não se encontrava.
  • quase morri de estudar.


A expressão afasta-se da precisa, passando a ser exagerada.

3.7 Gradação: É a figura de pensamento que ocorre quando há uma sequência de palavras sinônimas ou não intensificam uma mesma ideia

O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu-se, mediu-se. (Vieira)

A intenção é criar uma ideia espacial no leitor.

3.8 Prosopopeia (personificação)

É a figura de linguagem que consiste em atribuir linguagem, sentimentos e ações próprias dos seres humanos a seres inanimados ou irracionais.

Ex: 
Já viste às vezes, quando o sol de maio
imunda o vale, o matagal, a veiga?
Murmura a relva: "Que suave raio"
Responde o ramo: "Como a luz é meiga!"
Castro Alves.

O vento beija meus cabelos 
As ondas também minhas pernas
O sol abraça meu corpo.
(Lulu Santos/Nelson Mota)


3.9 Apóstrofe: É a figura de pensamento que ocorre quando nos referimos a uma pessoa ou coisa que pode está presente ou ausente, a apóstrofe é utilizada para dar uma ênfase a expressão, uma vez que raramente o interlocutor está presente e muitas vezes ele é um ser abstrato ou um ser que não terá condições de ouvir nossa interpretação.

Ó mar salgado quanto do teu sal, 
são lágrimas de Portugal.
(Fernando Pessoa)

quinta-feira, 1 de agosto de 2013


Figuras de linguagem 
Parte II

2. Figuras sintáticas ou de construção

As figuras sintáticas ou de construção dizem respeito a desvio a concordância entre os termos da oração e a ordem em que estes termos aparecem ou ainda as possíveis repetições ou omissões de termos. São alterações expressivas. Elas demonstram a possibilidade de cada indivíduo transmitir uma mesma ideia de formas diferentes

2.1 Silepse

É a figura de construção que a concordância não é feita de acordo com as palavras que efetivamente aparecem na oração mas segundo a ideia a elas associadas ou segundo um termo subtendido. A silepse pode ser de gênero, número ou pessoa.

a) silepse de gênero: ocorre quando há discordância entre os gêneros gramaticais (masculino ou feminino) de artigos e substantivos e adjetivos etc. 

Ex:
  • São Paulo é movimentada.
     (a cidade)

  • A Bandeirantes está cada dia mais congestionada.
  Bandeirantes: gênero masculino plural.

b) Silepse de número: Ocorre quando envolve o número gramatical (singular ou plural). O caso mais comum de silepse de numero é o do substantivo singular que, por se referir a uma ideia de plural leva os verbos e/ou adjetivo para o plural.

  • Corria gente de todos os lados e gritavam.
      verbo no plural concordando com a ideia.

  • Os Luziadas glorificou nossa literatura.
     O verbo concorda com a ideia da frase.

c) Silepse de pessoa: Há discordância entre o sujeito expresso e a pessoa verbal.

  • Os brasileiros choramos a derrota da seleção.
     (1º pessoa do plural)

Os dois andávamos distraídos

2.2 Elipse

É a omissão de um termo de uma oração inteira sendo que essa omissão geralmente fica subtendida pelo contexto.

Ex:
  • Como estávamos com pressa, preferi não entrar.
    Omissão dos pronomes nós, eu
2.3 Zeugma (do grego zeugma, junção)

Quando um termo omitido já estiver expresso anteriormente trata-se de um caso especial de elipse.
Ex:

  • "Você me conta um verso e eu te escrevo outro".
        (Eu escrevo outro verso.)

2.4 Polissíndeto/ 2.5 Assindeto


No período composto por coordenação podemos ter orações sindéticas e assindéticas, o adjetivo sindético vem do grego e significa "o que serve/para unir ligar por uma, se não apresentar conectivo e assindética (a indica ausência).

a) Polissíndeto: é uma figura caracterizada pela ausência pela omissão das conjunções coordenativas.

b) Assíndeto: pelo contrário é uma figura caracterizada pela ausência pela omissão das conjunções coordenativas,teremos então um período composto por orações coordenadas assindéticas.

Ex:

a) Vão chegando as burguesinhas pobres e as crianças das burguesias ricas e as mulheres do povo e as lavadeiras da redondeza.

b) espera, seja feliz.

2.6 Anáfora

É a figura de linguagem que consiste na repetição da mesma palavra ou construção no início de várias orações ou versos.

Ex:

Se você gritasse
Se você gemesse
Se você tocasse
a valsa vienense
Se você dormisse
Se você cansasse
Se você morrese...
Mas você não morre
você é duro José.
(Carlos Drummond de Andrade)

2.7 Pleonasmo (do grego pleonasmós, superabundância)

Consiste na repetição de um termo ou uma ideia mas que envolve uma redundância.
É um recurso estilístico quando tem a função de realçar uma ideia, torná-la mais expressiva, dai chama-se pleonasmo. Há repetição desnecessária tanto do ponto de vista sintático quanto do ponto de vista semântico.

Ex:

  • "Vi, claramente visto, o lume vivo que a marítima tem por santo."
obs: Pleonasmo vicioso.

Entrar pra dentro.
Subir pra cima.

Para a norma culta isso é um defeito de linguagem.

2.8 Hipérbato/Inversão (do grego hiperbaton"transposição")

É a figura que consiste na inversão da ordem direta dos termos da oração.
Ex:
  • Passeiam, à tarde as belas na avenida.
                                   (Carlos Drummond)

2.9 Anacoluto

É afigura sintática que ocorre quando um termo antecipado fica desligado sintaticamente da oração sofreu ou seja consiste numa ruptura da ordem lógica da frase uma quebra na estrutura sintática para uma expressão uma ideia sem nexo sintático da frase.

Ex: 
A rua onde moras, é nela que eu desejo morar.
A rua onde moras: sem função sintática
é nela: adj. adverbial de lugar

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Figuras de Linguagem

Figuras de linguagem

Parte I



As figuras de linguagens são formas de expressão que consistem no emprego de palavras em sentido figurado, isto é, um sentido diferente daquele em que convencionalmente são empregadas.

As figuras de linguagem dividem-se em quatro categorias, sendo elas:

1. Figuras de palavras;
2. Figuras sintáticas ou de construção;
3. Figuras de pensamento;
4. Figuras de harmonia.


Iniciemos então com as figuras de palavras.

1. Figuras de palavras.

As figuras de palavras consistem no emprego de um termo, um sentido diferente daquele em que esse termo é empregado.
Elas podem ser utilizadas tanto para tornar mais expressiva aquilo que queremos comunicar quanto para suprimir a falta de um termo adequado que designe alguma coisa.
Além disso estas fazem com que a língua se torne mais econômica, uma vez que uma palavra dependendo do contexto pode assumir os mais diferentes significados.

São as seguintes figuras de palavras:

1.1  Comparação simples.

É uma comparação entre dois elementos de um mesmo universo.

  • Este time é melhor do que aquele.
  • O meu caderno tem mais páginas que o seu.

1.2 Comparação metafórica (símile)

É uma comparação entre dois (objetos) elementos de universos diferentes.

  • Esta criança é como um touro.
  • Ele chorou feito um condenado.

Nesses casos observa-se uma semelhança ou uma característica que aproxima ambos.
Na comparação metafórica usamos palavras ou expressões que estabelecem a relação entre os termos comparados. Nesse tipo de construção, aparecem os conectivos comparativos: como, feito, que nem, assim como, tal, tal qual, etc.
São chamadas de comparação metafórica pois elas dependem muito do sujeito que as enuncia da sua sensibilidade do seu estado de espirito da sua experiência.
É a subjetividade que faz com que a comparação metafórica seja bastante diferente da comparação simples.

1.3 Metáfora.

"Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol.
E anda pela mão das Estações
A  seguir e a olhar." 
                                   Fernando Pessoa

É a figura de palavra em que um termo substitui outro em vista de uma relação de semelhança entre os elementos que esse termo designa. Essa semelhança é resultado da imaginação da subjetividade  de quem cria a mensagem.
Na comparação metafórica um elemento A é comparado a um elemento B através de um conectivo comparativo. Muitas vezes a comparação metafórica traz expressa no próprio enunciado a qualidade comum entre dois elementos

Esta criança é forte como um touro.

temos aqui um elemento A = criança
um elemento B = touro
uma característica comum = forte
ligados por um conectivo = como

Já na comparação metafórica a qualidade comum e o conectivo não são expressos e a semelhança entre os elementos A e B passa a ser puramente mental.

Esta criança é um touro.

As palavras sublinhadas são elementos, atribuições de características.

Diante de fatos e coisas novas que não fazem parte da  experiência de associar fatos e coisas que  já se conhece é que faz com que surjam as metáforas.

Ex: 
  • Peixe-espada 
  • Voto-camarão
  • Cheque-borracha

Muitos verbos são usados no sentido metafórico

  • O relógio pingava as horas uma a uma vagarosamente.

Expressões metafóricas:

  • Ter o rei na barriga
  • Saltar de banda
  • Ir para o olho da rua

1.4 Catacrese 

É um tipo especial de metáfora a catacrese não é mais a expressão subjetiva de um individuo, mas ja foi incorporada por todos os falantes da língua passando a ser uma metáfora corriqueira e portanto, pouco original

Ex:
  •  O poema está no pé da página.

Muitas vezes é difícil perceber a catacrese justamente pelo fato de ela ter se tornado comum, corriqueira.

Ex:
  • Pé-da-mesa
  • Maça-do-rosto
  • Cabelo do milho

1.5 Sinestesia

É outro tipo de metáfora, consiste em aproximar na mesma expressão sensações percebidas por diferentes órgãos dos sentidos. Como na metáfora, trata-se de relacionar elementos de universos diferentes.

  • Uma voz áspera intimida a platéia.

Voz (sensação auditiva)
Áspera (sensação tátil)

1.6 Metonímia

Consiste na substituição de um termo por outro, em que a relação entre os elementos que esses termos designam não depende exclusivamente do indivíduo mas da ligação objetiva que esse elemento mostra com a realidade.
Na metonímia um termo substitui outro, não porque a nossa sensibilidade estabeleça uma relação de semelhança entre os elementos tem de fato, uma relação de dependência. Dizemos que na metonímia há uma relação de continuidade entre o sentido do termo que constitui.

a) da causa pelo efeito;

  • Sou alérgico à cigarro. 
cigarro é a causa, a fumaça o efeito.

b) do efeito pela causa;

  • Ele ganha a vida com o suor

c) O abstrato pelo concreto;

  • O amor não ver defeitos

d) do continente pelo conteúdo

  • Ele é capaz de comer vários pacotes de bolachas

e) do nome do lugar pela coisa nele produzida;

Compramos uma garrafa do legítimo porto.

f) do nome do autor pela obra.

  • Gosto de ouvir Mozart
  • Ele Comprou um Portinari

1.7 Sinédoque

É  a substituição de um termo por outro, em que os sentidos desses termos tem uma relação extensa de extensão desigual. Na sinédoque há uma ampliação ou uma redução do sentido usual da palavra.

  • Comer o pão com o suor do rosto

1.8 Antonomásia

O processo de formação das antonomásias é semelhante ao de formação dos apelidos.

Leia atentamente a sentença abaixo, extraída da 


Revista Veja:



“O apelido mais célebre ainda é ‘Dama de Ferro’, mas nas últimas semanas ela se tornou também a ‘Altamiranta Tatcher’ (…)”.

No trecho acima, o autor usa a expressão “Dama de Ferro” para designar a primeira-ministra da Inglaterra, Margaret Thatcher, substituindo seu nome por uma característica da qual se tornou notória.

“O seminário de segunda-feira será sobre o ‘poeta dos escravos’.”

Nesta sentença, a expressão “poeta dos escravos” foi usada para designar o poeta “Castro Alves”, que se tornou conhecido por escrever “O Navio Negreiro”, poema épico-dramático que denuncia a escravização e o modo de transportar os negros para o Brasil, apesar de já vigorar aqui a Lei Euzébio de Queiroz

Quando designamos uma pessoa pelos seus atributos ou por referências a circunstâncias em que se envolveu, estamos fazendo uso da antonomásia. Essa figura de linguagem é muito utilizada nos textos escritos e falados.

Veja alguns exemplos de antonomásia muito comuns no cotidiano:

“O repórter de Canudos” – Euclides da Cunha.
“O engenheiro da palavra” – João Cabral de Melo Neto.
“O rei do cangaço” – Lampião.
“O rei do pop” – Michael Jackson.
“O rei do futebol” – Pelé.
“O Rei” – Roberto Carlos.





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS





PIRES, Orlando. Manual de Teoria e Técnica Literária. Rio de Janeiro, Presença, 1981, p. 102.

SAVIOLE, Francisco Platão. Gramática em 44 lições. 15 ed. São Paulo, Ática, 404-5.
http://www.infoescola.com/linguistica/antonomasia/










terça-feira, 25 de junho de 2013

Linguagem, comunicação e interação


Você conhece Mafalda? Ela é personagem de Quino, cartunista e quadrinista argentino. Leia esta História.





Observe esta charge também:



Podemos perceber que nas duas charges os personagens estão em uma situação de comunicação é baseando-se nessas duas histórias que iremos compreender um pouco do que seja Linguagem, comunicação e interação.
Quando duas pessoas se comunicam, elas levam em conta não apenas o que é dito, mas também outros elementos da situação. Tais elementos são, por exemplo, o contexto, quem fala e com quem se fala, a imagem de si própria que cada uma das pessoas tem ou deseja transmitir para a outra, etc. Esses vários elementos da situação fazem parte do jogo social da linguagem.
Nas situações retratadas nas tiras percebemos que as personagens se comunicam e se interagem entre si, ou seja o que um personagem diz acaba provocando uma reação na outra e vice-versa. Na primeira situação percebe-se que os personagens estão em um ambiente escolar onde a professora faz um questionamento direcionado ao Manolito que estimulou ao personagem a dar a sua resposta e consequentemente levou a Mafalda expor seu ponto de vista por estar naquele contexto.
Na segunda situação temos Calvin e Haroldo. No diálogo Haroldo com seus questionamentos leva a Calvin perceber implicitamente que o corte do seu cabelo da forma que ele queria cortar não focaria tão bom assim. 
Sendo assim observamos que nas duas charges os personagens estão em uma situação de comunicação.

Nesse sentindo podemos depreender que:

A COMUNICAÇÃO: Ocorre quando interagimos com outras pessoas utilizando linguagens.

Observamos na comunicação das histórias que os personagens não utilizaram apenas palavas. Elas gesticulam, fazem expressões faciais, expressões corporais como forma integrante da linguagem.

Portanto:

LINGUAGEM: é um processo comunicativo pelo qual as pessoas interagem entre si.

Nas tiras acima os personagens inter-relacionam e interagem por meio da linguagem. Assim, pode-se dizer que a comunicação nascida da interação entre essas pessoas foi construída solidariamente por elas, que são interlocutores no processo comunicativo

INTERLOCUTORES: São as pessoas que participam do processo de interação por meio da linguagem.

Aquele que produz a linguagem é chamado de locutor, e aquele que recebe a linguagem é chamado de locutário. No processo de comunicação e interação, ambos são interlocutores.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

CEREJA, Willian Roberto & Magalhães, Tereza Cochar. Português Linguagens: vol.1. São Paulo: Saraiva, 2010.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Denotação e conotação


Observe os textos a seguir:

Texto 1


O Taxista 

Compositor: Roberto Carlos - Erasmo Carlos

Saio logo cedo no meu carro
Ninguém sabe o meu destino
Num aceno eu paro, abro a porta
E entra alguém sempre benvindo
Elegante ou mal vestido
Velho, moço ou até menino
Fecha a porta, diz aonde vai
E tudo bem, eu já 'tô indo

Sou taxista
'Tô na rua, 'tô na pista
Não 'tô no palco
Mas no asfalto eu sou um artista

Ouço todo tipo de conversa
O tempo todo 'tô ligado
Só me meto, dou palpite, dou conselho
Quando sou chamado

No meu carro ouço histórias
Desabafos, risos todo o ano
Sou de tudo um pouco nessa vida
Eu sou um analista urbano

Sou taxista
'Tô na rua, 'tô na pista
Não 'tô no palco
Mas no asfalto eu sou um artista

O papo é sempre o mesmo
Pra puxar qualquer assunto a qualquer hora
Que trânsito, que chuva, que calor
Mas logo mais isso melhora

Tento agradar a todo mundo
E trabalhar sempre sorrindo
Mas sou um ser humano
E só eu sei às vezes o que estou sentindo

Sou taxista
'Tô na rua, 'tô na pista
Não 'tô no palco
Mas no asfalto eu sou um artista


O cansaço, a solidão
Aperta o coração na madrugada (*)
Mas a missão cumprida me desperta
É hora de voltar pra casa

Dou graças a Deus que lindos filhos
E a mulher em paz sorrindo
Valeu a hora extra pra com eles
Ter a folga de domingo

Sou taxista
'Tô na rua, 'tô na pista
Não 'tô no palco
Mas no asfalto eu sou um artista

Texto 2


Receita

Ingredientes

2 conflitos de gerações
4 esperanças perdidas
3 litros de sangue fervido
5 sonhos eróticos
2 canções dos beatles

Modo de preparar

Dissolva os sonhos eróticos
nos dois litros de sangue fervido
e deixe gelar seu coração.

Leve a mistura ao fogo,
adicionando dois conflitos
de gerações às esperanças perdidas.

Corte tudo em pedacinhos
e repita com as canções dos
beatles o mesmo processo usado
com os sonhos eróticos, mas desta
vez deixe ferver um pouco mais e
mexa até dissolver.

Parte do sangue pode ser
substituído por suco de
groselha, mas os resultados
não serão os mesmos.
Sirva o poema simples
ou com ilusões.
(Nicolas Behr)


Como já vimos, a linguagem humana difere da comunicação animal por envolver um trabalho mental, pois o homem, ao contrário do animal, retém o significado de uma palavra. E mais: o homem tem imaginação criadora e usa frequentemente. Dessa forma, na linguagem humana, uma mesma palavra pode ter seu significado ampliado, remetendo-nos a novos conceitos por meio de associações, dependendo de sua colocação numa determinada frase.

Como podemos observar no texto 1 "O Taxista " encontramos as palavras em sentido conforme consta no dicionário: taxista, tô na rua, tô na pista. já o texto 2 "Receita" as palavras teve o seu significado ampliado, e por uma série de associações, entendemos que nesse caso, "litros de sangue fervido", "gelar seu coração" não estão em sentido de dicionário.
No primeiro exemplo, apresenta seu sentido original, impessoal, independente do contexto, tal como aparece no dicionário, nesse caso, prevalece o sentido denotativo - ou denotação - signo linguístico.
No segundo exemplo, a palavra aparece com seu significado alterado, passível de interpretações diferentes, dependendo do contexto em que é empregada; nesse caso prevalece o sentido conotativo - ou conotação - do signo linguístico.

Estes dois conceitos são muito fáceis de entender se lembrarmos de duas partes  distintas, mas interdependentes, que constituem  o signo linguístico:
  • O significante ou plano da expressão;
  • O significado ou parte perceptível.

Conceituando:

DENOTAÇÃO: É o resultado da união existente entre o significante e o significado, ou entre o plano da expressão e o plano do conteúdo.

CONOTAÇÃO: A  conotação resulta do acréscimo de outros significados paralelos ao significado base da palavra, isto é, um outro plano de conteúdo que pode ser combinado ao plano da expressão. Este outro plano de conteúdo reveste-se de impressões, valores afetivos e sociais, negativos ou positivos, reações psíquicas que um signo evoca.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


CEREJA, Willian Roberto & Magalhães, Tereza Cochar. Português Linguagens: vol.1. São Paulo: Saraiva, 2010.
FIORIN, José Luiz & SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto, leitura e redação. 9. ed. São Paulo: Ática, 2005.
TERRA, Ernani & Nicola, José de. Práticas de linguagem: leitura & produção de texto. São Paulo: Scipione, 2001.






quarta-feira, 30 de janeiro de 2013



Intertextualidade, interdiscursividade e paródia

Você com certeza já conhece a Monalisa do famoso pintor Leonardo da Vinci, um dos mais famosos pintores renascentista e também conhece o criador da turma da Mônica,  Maurício de Sousa. Vamos observar as figuras abaixo:




Ao lado da tela de Leonardo da Vinci, temos uma criação de Maurício de Sousa, um cartunista brasileiro, ao criar o quadro Maurício de Sousa não tinha a intenção de imitar o quadro de Da Vinci, mas sim "dialogar"  com o mesmo e criando humor a partir dele.

Observe os trechos que seguem:

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas tem mais flores,
Nossos bosques tem mais vida,
Nossa vida mais amores.
                                                (DIAS, Gonçalves. Canção do Exílio)

Do que a terra mais garrida
Teus risonhos lindos campos tem mais flores:
"Nossos Bosques tem mais vida"
"Nossa Vida", no teu seio, "mais amores".
                                                                  (Hino Nacional Brasileiro)

Nossas flores são mais bonitas
Nossas frutas mais gostosas
mas custam mil réis a dúzia.
                                               (MENDES, Murilo. Canção do Exílio)

Os três textos são semelhantes. O que se observa é que o texto de Murilo Mendes e o trecho da letra do Hino Nacional, fazem alusão ao texto de Gonçalves Dias, assim como o cartum de Maurício de Sousa faz referência ao quadro de Leonardo da Vinci. Quando um texto cita outro, dizemos que entre eles existe intertextualidade.

Intertextualidade: é a relação entre dois textos caracterizada por um citar o outro.

A intertextualidade pode aparecer em um texto de forma implícita ou explicita.

Intertextualidade implícita: acontece quando um poeta, cartunista, romancista não indicam o autor e a obra donde retira as passagens citadas, pois pressupõe que o leitor compartilhe com ele um mesmo conjunto de informações a respeito das obras que compõem um universo cultural.

Intertextualidade explicita: O texto citado vem entre aspas e em nota indica-se o autor e o livro donde se extraiu a citação.

Agora vamos observar esses dois poemas:

Meus Oito anos

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem, mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
[...]
   (Cassimiro de Abreu)

Meus Oito Anos

Oh que saudades que eu tenho
Da aurora de minha vida
Das horas
De minha infância
Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra
Da Rua de Santo Antônio
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais
[...]
(Oswald de Andrade)

O primeiro texto, de Cassimiro de Abre, foi escrito no século XIX; o segundo texto, de Oswald de Andrade, foi escrito no século XX. As semelhanças entre os textos são evidentes, pois o assunto deles é o mesmo e há versos inteiros que se repetem.
Nesse tipo de relação estabelecida entre os textos, não há apenas intertextualidade. Há uma relação mais abrangente, que envolvem dois discursos poéticos distintos, duas formas diferentes de ver a infância: a de Casimiro de Abreu, mais idealizada e romântica, a a de Oswald de Andrade, moderna e antissentimental  A esse tipo de relação entre discursos, quando se evidenciam os elementos da situação de produção - quem fez, para que, em que momento histórico, com qual finalidade, etc. - chamamos interdiscursividade.

Interdiscursividade: é a relação entre dois discursos caracterizada  por um o citar outro.

O tipo de relação existente entre os dois textos também é chamado de paródia.

Paródia: é um tipo de relação intertextual em que um texto cita outro geralmente com o objetivo de fazer-lhe uma crítica ou inverter ou distorcer suas ideias.

A percepção das relações intertextuais, das referências de um texto a outro, depende do repertorio do leitor, do seu acervo de conhecimentos literários e de outras manifestações culturais. Daí a importância da leitura, principalmente daquelas obras que constituem as grandes fontes da literatura universal. Quanto mais se lê, mais se amplia a competência para aprender o diálogo que os textos travam entre si por meio de referências, citações e alusões. Por isso cada livro que se lê torna maior a capacidade de aprender, de maneira mais completa, o sentido dos textos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CEREJA, Willian Roberto & Magalhães, Tereza Cochar. Português Linguagens: vol.1. São Paulo: Saraiva, 2010.
FIORIN, José Luiz & SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto, leitura e redação. 9. ed. São Paulo: Ática, 2005.
TERRA, Ernani & Nicola, José de. Práticas de linguagem: leitura & produção de texto. São Paulo: Scipione, 2001.